Marcelo de Araújo dos Santos, doutorando em Administração pela FGV, Mestre em Administração pela UFPE e Graduado em Administração. Possui MBA em Gestão Empresarial, Gestão de Projetos e Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria. Atualmente, é Assessor Executivo da Presidência do Banco do Nordeste do Brasil S/A (BNB), com foco em planejamento estratégico, gestão financeira e articulação institucional. Tem experiência como professor acadêmico, conselheiro em instituições de fomento e turismo, além de forte atuação em pesquisas sobre microcrédito, empoderamento feminino e inclusão financeira.
Com o avanço da inteligência artificial e a automação de tarefas no setor financeiro, torna-se cada vez mais evidente o valor das qualidades humanas que permanecem essências ao longo do tempo. Mais do que dominar ferramentas, o financista respeitado se distingue por atitudes consistentes tanto no trabalho quanto na vida pessoal. Ética, discrição, clareza de objetivos, rigor técnico, humildade, preparo e aprendizado contínuo com espírito inovador são virtudes que sustentam o verdadeiro sucesso profissional.
Entretanto, em um ambiente onde a técnica é exigida, a reputação é vigiada e os erros custam caro, a performance do financista não se limita aos relatórios que assina. Ela também se expressa na forma como se posiciona diante de riscos, de pessoas e de decisões, revelando um caráter que vai além do domínio técnico.
Diferentemente da imagem popular que associa o trabalho financeiro à frieza dos números, a atuação do financista é profundamente humana, estratégica e relacional. É nesse contexto que se destacam sete regras essenciais, forjadas na prática e na observação de quem constrói carreiras consistentes, com relevância institucional e respeito consolidado no mercado.
A primeira delas é a ética e a responsabilidade. Já vi profissionais com enorme potencial encerrarem suas trajetórias por deslizes éticos ou por não compreenderem plenamente a complexidade das funções que assumiram. Em finanças, decisões aparentemente pequenas podem gerar grandes consequências. Um financista respeitado entende que sua assinatura representa compromissos institucionais, e não apenas pessoais. Ética não é apenas um princípio. É um pilar técnico e reputacional.
A segunda é a discrição. O financista deve cultivar uma postura reservada, tanto no trato com os dados quanto na forma como se expõe socialmente. Em um mundo em que tudo se compartilha e ostenta, ser discreto é uma forma de proteção. Não se trata de esconder, mas de saber o que não precisa ser dito. O verdadeiro financista entende que evitar a exposição é uma forma de preservar. Quanto mais se tem a perder, maior deve ser o cuidado. Isso exige maturidade.
A terceira qualidade é a postura e a clareza de objetivos. Não basta ser competente; é preciso parecer. A forma como o financista se apresenta, organiza suas ideias, responde a imprevistos e conduz diálogos impacta diretamente a percepção de stakeholders, gestores e parceiros. A imagem é um ativo silencioso, mas poderoso. Em uma área onde confiança é um dos pilares mais valiosos, cuidar da linguagem, do vestuário, da clareza e até do tom de voz torna-se parte da entrega. Aqui também entra a disciplina da administração por objetivos: saber aonde se quer chegar, alinhar esforços e medir conquistas fortalece a credibilidade. Resultados sólidos não nascem do acaso, mas de metas bem definidas e coerentemente perseguidas.
A quarta qualidade é o rigor técnico. Nenhuma postura elegante resiste à ausência de rigor técnico. Revisar dados, validar lançamentos, auditar informações e cruzar evidências são comportamentos que distinguem o bom profissional. Os maiores erros raramente estão nos grandes números, mas nos pequenos detalhes negligenciados. Um financista que não revisa é como um cirurgião que não checa os instrumentos antes da operação. A falha não é apenas técnica. É ética.
A quinta qualidade é a humildade. O financista que se julga invencível corre o risco de subestimar cenários, desprezar opiniões e repetir fórmulas que já não funcionam. Humildade não é sinal de insegurança, mas de inteligência adaptativa. O mercado pune a arrogância com juros compostos. Reconhecer limites, ouvir mais do que falar e admitir dúvidas são atitudes de quem entende que conhecimento não é ponto de chegada. É ponto de partida.
A sexta qualidade trata da lógica das reservas e da liquidez. Sem reservas, tudo vira urgência. O financista deve ser o primeiro a aplicar em sua própria vida aquilo que prega nos comitês, nas análises de crédito ou nos diagnósticos financeiros. Ter reservas é mais do que segurança: é liberdade. Imprevistos são parte da vida, mas quando há preparo, deixam de ser emergências e passam a ser apenas ajustes. Isso inclui não apenas acumular recursos, mas também manter a capacidade de agir com rapidez e estratégia. Ter liquidez não significa deixar o dinheiro parado. Significa investir com sabedoria, respeitando sempre a margem de segurança, tanto em relação ao risco quanto à possibilidade de acesso imediato aos recursos.
A sétima e última qualidade é o aprendizado contínuo e o espírito inovador. O mundo financeiro é dinâmico, marcado por novas legislações, tecnologias e mudanças econômicas que exigem atualização permanente. O financista que se fecha em sua própria experiência inevitavelmente fica para trás. Aprender, portanto, é manter a mente afiada e a prática alinhada à realidade. Esse aprendizado precisa vir acompanhado de espírito inovador e postura empreendedora: transformar conhecimento em soluções criativas, propor novos modelos e enxergar oportunidades em meio à incerteza. É essa combinação que garante relevância em um cenário que nenhuma máquina consegue reproduzir.
Essas sete regras não são receitas infalíveis, nem manuais de sucesso rápido. São princípios que, quando combinados, moldam a base do que se espera de um financista respeitado: alguém confiável, técnico, estratégico e consciente de sua responsabilidade diante dos números e das pessoas. O sucesso profissional não se resume à performance nos indicadores. Ele se constrói na forma como decisões são tomadas, relações são cultivadas e reputações são preservadas.
Nesse conjunto, o equilíbrio tem papel central: é ele que conecta todas as virtudes, garantindo coerência entre ética, discrição, postura, rigor técnico, humildade, reservas e aprendizado. Esse equilíbrio não se limita ao exercício profissional, mas se estende às diversas áreas da vida: ao corpo, à mente, às relações e ao propósito. Sem ele, cada qualidade se fragmenta; com ele, todas se tornam sólidas e sustentáveis.
Autoridade verdadeira não se impõe com palavras, nem se transfere por tecnologia. Ela se constrói com constância, caráter e coerência. E é nessa prática integral das qualidades, guiadas pelo equilíbrio, que o financista encontra não apenas respeito momentâneo, mas relevância duradoura.
Em qual dessas qualidades você precisa investir agora, para continuar sendo o tipo de financista que nenhuma máquina substitui?
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão













