Bradlei Moretti – Doutorando em Administração pela FGV EAESP e CEO da Berkan Consultoria & Auditoria
Os setores elétrico, de saneamento e demais serviços essenciais brasileiros já usam inteligência artificial diariamente. Será que estamos preparados para aproveitar ao máximo seu potencial?
A Inteligência Artificial (IA) já faz parte do dia a dia dos setores de utilities no Brasil, embora poucos percebam. Seja na previsão do consumo de energia, no monitoramento e gerenciamento dos recursos hídricos, na prevenção de fraudes ou no atendimento aos consumidores, a IA não é mais uma promessa distante, mas sim uma realidade silenciosa que impulsiona esses setores essenciais. Mas, será que estamos realmente prontos para aproveitar todos os benefícios dessa revolução tecnológica?
IA já faz parte do cotidiano
Empresas de energia e saneamento brasileiras investem anualmente bilhões em tecnologias avançadas, incluindo IA. Porém, esses investimentos passam despercebidos pelo consumidor comum. Quando alguém utiliza o atendimento automatizado por chat, ou quando empresas conseguem prever melhor a demanda energética e a disponibilidade de água, isso acontece graças à inteligência artificial.
Diversas empresas desses setores já estão criando estruturas próprias para fomentar a inovação com base em dados e IA buscando desenvolver uma cultura que valorize a análise inteligente de informações para melhorar a qualidade dos serviços prestados à população.
Benefícios claros, desafios importantes
As aplicações práticas são diversas e trazem benefícios claros. Por exemplo, durante tempestades ou eventos climáticos extremos, a IA pode ajudar a prever riscos e minimizar os impactos na rede elétrica e nos sistemas de abastecimento de água. Medidores inteligentes, que registram o consumo de energia e água em tempo real, já estão presentes em milhões de residências brasileiras.
Por outro lado, há desafios significativos que precisam ser enfrentados. O uso de IA requer uma gestão cuidadosa dos dados, respeito à privacidade dos consumidores, segurança cibernética e, acima de tudo, profissionais bem treinados. Também é fundamental garantir que a IA seja usada de maneira ética, evitando decisões injustas ou preconceituosas e, principalmente, contribuindo para a modicidade tarifária.
Formação profissional e responsabilidade
Cabe destacar a necessidade de formar profissionais capazes de lidar com essa nova realidade, combinando conhecimentos técnicos sobre energia, saneamento e habilidades em análise de dados. Além disso, a inteligência artificial deve ser transparente e auditável, assegurando que suas decisões sejam justas, seguras e isonômicas.
Algumas empresas desses setores já estão investindo em estratégias que envolvem parcerias com grandes empresas tecnológicas, criando bases sólidas para novos serviços digitais que podem beneficiar consumidores, empresas, reguladores e investidores.
Sandbox regulatório: um passo importante
A importância dos chamados sandboxes regulatórios, ambientes onde as empresas podem testar novos modelos de atendimento e operação com maior liberdade regulatória, são fundamentais neste processo de transição. Essa flexibilidade permite experimentar soluções inovadoras de maneira segura e controlada, facilitando o avanço tecnológico sem comprometer a estabilidade e segurança dos sistemas.
Estamos prontos para essa mudança?
A questão central permanece: estamos preparados para lidar com todas as implicações da IA nos setores de utilities? Mais do que simplesmente reconhecer os benefícios dessa tecnologia, é preciso desenvolver estratégias responsáveis de governança e regulamentação clara, além de garantir que seu uso seja ético e benéfico para todas as partes envolvidas. Só assim a inteligência artificial poderá se transformar em uma verdadeira oportunidade de crescimento econômico e social para o país.
O futuro já chegou para os setores essenciais do Brasil. Resta decidir se ele representará uma oportunidade de crescimento ou se ficaremos presos a velhos hábitos e tecnologias ultrapassadas. A hora de agir é agora.
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão













