Mauro Loureiro Junior, Doutorando do DBA FGV, Diretor de Operações.
Nunca compramos tanto pela internet quanto agora, mas o e-commerce não está apenas crescendo: ele está se transformando profundamente. Avanços tecnológicos, mudanças rápidas nos hábitos dos consumidores e novos modelos de negócios estão revolucionando completamente o cenário digital, redefinindo não só como compramos, mas como nos relacionamos com as marcas. Dentre essas mudanças algumas macrotendências se destacam nos relatórios de empresas especializadas no segmento.
Uma das mais empolgantes é o Social Commerce, com destaque especial para o Live Shopping. Plataformas como Mercado Livre, Amazon e TikTok já descobriram que o futuro das vendas passa pela interação direta e autêntica com o consumidor. Por meio de transmissões ao vivo e conteúdos gerados por usuários, a conexão emocional gerada nessas plataformas converte-se rapidamente em vendas. Segundo a Shopify (2024), só em 2024, o Social Commerce respondeu por 19,4% das vendas online globais e deve alcançar incríveis US$ 8,5 trilhões até 2030.
Outra tendência é a integração Omnichannel, que conecta o mundo físico ao digital, criando uma jornada única e sem fricções para o consumidor (McKinsey, 2024). Um exemplo dessa integração é a Nike, que permite aos clientes personalizar produtos online e retirá-los em lojas físicas, oferecendo uma experiência altamente integrada e inovadora. Já a Zara utiliza seus espaços físicos para complementar a experiência digital, permitindo devoluções e trocas rápidas e facilitando o processo de retirada dos pedidos online.
No campo financeiro, as fintechs e novos meios de pagamento estão transformando profundamente o e-commerce. A Shopee reforçou sua presença financeira ao adquirir a fintech Blu, enquanto a Amazon estabeleceu parceria estratégica com a Open Co. O Mercado Livre, com o seu já consolidado Mercado Pago, permanece à frente, oferecendo soluções que tornam as transações digitais rápidas, seguras e simples, conforme destaca a PwC (2024).
Além disso, Inteligência Artificial (IA) e Automação têm sido protagonistas. Segundo NielsenIQ (2024), nos Estados Unidos, apenas durante a Black Friday de 2024, chatbots inteligentes ajudaram a impulsionar vendas online que superaram US$ 10,8 bilhões. Isso evidencia como tecnologias inovadoras podem influenciar diretamente os hábitos de consumo. Um exemplo claro é a utilização do chatbot da Amazon, Alexa, que tem recebido investimentos contínuos para aprimorar seu desempenho e atender melhor os consumidores em suas jornadas de compra.
A sustentabilidade também se torna fundamental, refletindo uma mudança na consciência do consumidor. Empresas estão cada vez mais adotando embalagens ecológicas e práticas de logística sustentável, reduzindo significativamente seu impacto ambiental, segundo aponta a WGSN (2024). A Natura exemplifica esse movimento, destacando-se pela utilização de embalagens recicladas e iniciativas sustentáveis em sua cadeia logística. Outro exemplo significativo é a Amazon, que se comprometeu a utilizar 100% de energia renovável em suas operações até 2025 e atingir a meta de zero carbono líquido até 2040.
Paralelamente, a importância da privacidade e da proteção de dados cresce devido a regulamentações rigorosas como LGPD e GDPR, obrigando empresas a adotarem medidas robustas de segurança para garantir a confiança dos clientes, como indicado pela TOTVS (2024).
Por fim, o Quick Commerce se consolida rapidamente. De acordo com o Nuvemshop (2023), entregas em menos de uma hora, antes restritas a alimentos, agora abrangem medicamentos, vestuário e mantimentos, refletindo uma demanda crescente por conveniência e agilidade. A empresa Rappi exemplifica essa tendência, oferecendo entregas ultrarrápidas em diversas categorias de produtos, incluindo alimentos, medicamentos e itens do cotidiano. Desde o lançamento do Rappi Turbo em 2021, a empresa já entregou mais de 13 milhões de pedidos, registrando crescimento de 41% no volume de compras nos últimos 12 meses. Em 2024, a Rappi investiu R$ 100 milhões em sua operação brasileira, com expectativa de aumento de vendas em 79% (Meio e Mensagem, 2024).
Essas macrotendências não são meras apostas futuristas; já são realidades transformadoras que estão moldando a experiência do consumidor e exigindo respostas ágeis das empresas. Além disso, essas mudanças estão impulsionando uma consolidação do setor, com grandes empresas ampliando suas operações e reforçando sua liderança no mercado. Para se manter relevante, é essencial que empresas estejam atentas e preparadas para evoluir junto com essas tendências, garantindo seu espaço no futuro do e-commerce.
Texto originalmente publicado no blog Gestão e Negócios do Estadão, uma parceria entre a FGV EAESP e o Estadão, reproduzido na íntegra com autorização.
Os artigos publicados na coluna Blog Gestão e Negócios refletem exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, a visão da Fundação Getulio Vargas ou do jornal Estadão