No retorno a atividades de trabalho presenciais durante a pandemia de Covid-19, a prevalência de bem-estar entre funcionários homens foi de 71%, índice significativamente maior do que entre mulheres. Neste grupo, o predomínio do bem-estar adequado foi de apenas 56%, o que pode estar relacionado à maior exposição das mulheres a situações de risco e estresse, como sobrecarga de trabalho e acúmulo do cuidado com a família, e à ocorrência de transtornos como ansiedade e depressão. A constatação é de artigo com participação dos pesquisadores da FGV EAESP Alberto José Niituma Ogata e Ana Maria Malik publicado na revista “Journal of Occupational and Environmental Medicine”.
Os autores aplicaram questionário online a 2241 trabalhadores de nove empresas brasileiras dos setores de indústria e construção entre outubro e novembro de 2021. O bem-estar psicológico dos participantes foi avaliado de acordo com o Índice de Bem-Estar da Organização Mundial da Saúde considerando as características sociodemográficas, laborais e as condições de saúde dos trabalhadores da amostra. Do total de participantes da pesquisa, 63.15% apresentaram bem-estar adequado.
Trabalhadores das equipes de limpeza, manutenção ou segurança relataram maior prevalência de bem-estar adequado, de 85%. O menor índice, 57%, foi registrado entre os trabalhadores administrativos. Com relação ao regime de trabalho, as chances de bem-estar adequado foram maiores entre os funcionários que atuavam em tempo integral na empresa, com 74% de prevalência, do que entre aqueles exclusivamente em teletrabalho (57%), em regime híbrido (60%) ou em licença temporária, (33%). Entre as possíveis explicações para esse resultado, segundo os autores, estão a pouca oportunidade de socialização e os longos períodos de exposição às telas.
Trabalhadores nas faixas etárias de 40 a 49 anos e acima de 50 anos tiveram bem-estar adequado significativamente maior do que aqueles com menos de 30 anos. A prevalência de bem-estar adequado entre os primeiros foi de, respectivamente, 67% e 76%, contra 53% entre os mais jovens. Segundo a literatura da área, menores índices de bem-estar entre a população mais jovem podem estar relacionados ao aumento da ansiedade, às poucas atividades de lazer e às incertezas sobre o futuro diante da superexposição às informações sobre a Covid-19.