O termo Antropoceno, que define a era geológica atual, foi proposto a partir das evidências de que a atividade humana causou danos irreversíveis nos sistemas da Terra, como as mudanças climáticas. Segundo a pesquisadora da FGV EAESP Isleide Arruda Fontenelle, são necessárias soluções e práticas alternativas de organização e aprendizagem para a humanidade lidar com o que é da ordem do incontrolável e se materializa nos eventos do Antropoceno.
Em ensaio publicado na revista “Management Learning”, a autora discute o conceito de Antropoceno com aportes da psicanálise para propor uma ética para mediar as relações entre atores humanos e não humanos. Tal ética, explica, é baseada nos ensinamentos da tragédia grega sobre a impotência da humanidade diante da morte, que faz frente ao pretenso domínio do humano sobre a natureza.
A autora afirma que estudos sobre aprendizagem de gestão têm questionado a formação nas escolas de negócios, mas a crítica ainda não incorpora o contexto do Antropoceno e a organização do tempo imposta pela visão de mundo moderna e ocidental. Uma ética que considere o indeterminado pode abrir as organizações e gestores a novas possibilidades.
Neste sentido, a pesquisadora afirma ser importante incorporar as vivências de outros mundos e formas de organização que estão além das práticas hegemônicas. As experiências dos povos indígenas do continente americano podem servir de inspiração. Sua organização social inspira uma nova percepção de tempo, menos acelerado e competitivo, e a responsabilidade dos humanos com a natureza e outras formas de vida.