Diante da inesperada crise sanitária provocada pela chegada da covid-19 ao Brasil, a gestão municipal da saúde viveu um ciclo reativo. De início, predominou a sensação de despreparo e o foco na resolução de problemas urgentes, como ampliação dos leitos de UTI e medidas de distanciamento. Porém, através da adaptação à nova realidade com práticas inovadoras, gestão compartilhada dos processos e envolvimento das equipes de vigilância em saúde nas ações, foi possível alcançar alguns bons resultados no combate à pandemia. Os apontamentos são de pesquisadores da FGV EAESP em artigo publicado na revista “Saúde Debate”.
A pesquisa é baseada em entrevistas realizadas em dezembro de 2020 com gestores da saúde de três municípios brasileiros de médio e grande porte – Fortaleza, Pelotas e Uberlândia. O objetivo foi avaliar a resposta do Sistema Único de Saúde (SUS) à covid-19. Para definir os municípios a serem analisados, os autores partiram de uma amostra inicial com 50 municípios reconhecidos pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) como referência no combate à pandemia. A seleção da amostra priorizou, entre outros elementos, a distribuição geográfica, modelo de gestão e o acesso aos gestores do SUS para coleta de informações.
Apesar dos diferentes contextos epidemiológicos, sociais e políticos dos municípios estudados, os autores identificaram padrões comuns de comportamento entre os gestores, especialmente no início da pandemia no país, em março de 2020. O período foi ainda mais desafiador por conta da falta de planejamento nacional para as ações de enfrentamento, o que gerou insegurança nas equipes e atraso na implementação de medidas para mitigar a transmissão da doença.
Parcerias com universidades e presença de organizações sociais da saúde contribuíram para resiliência da gestão municipal de saúde
Os gestores de saúde dos municípios também precisaram lidar com a falta de recursos humanos qualificados, a exaustão das equipes atuantes e a escassez de insumos e equipamentos. Tais limitações evidenciam a importância de ações multissetoriais e contínuas para garantir a resiliência do SUS, afirmam os autores: “essas ações devem ser promovidas, articuladas e incentivadas pelo governo federal e pelos estaduais, com a plena participação de todos os atores envolvidos”.
Por outro lado, os autores destacam que a gestão compartilhada, através de parceria com universidades e articulação com as secretarias estaduais de saúde, auxiliaram a organização das respostas à pandemia em âmbito regional. Municípios cuja gestão é realizada por organizações sociais da saúde tiveram mais agilidade nas ações do que aqueles sob administração direta do poder público, frisam os autores.