Para uma gestão mais sustentável, o campo da Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management, ou SCM) deve incorporar aspectos críticos e sociais em seus debates. Reflexões sobre poder, questões éticas e ambientais, diversidade e condições de trabalho são algumas das recomendações.
Ao abordar de forma crítica as relações entre compradores e fornecedores, bem como os sistemas de eficiência e produtividade na produção industrial, a SCM pode aprimorar os estudos e as práticas da área com base nos três aspectos centrais dos Estudos Críticos da Gestão (Critical Management Studies): a desnaturalização de práticas de gestão exploratórias, a inclusão de maior reflexividade crítica e social nas pesquisas e a elaboração de novas medidas para avaliar o desempenho de trabalhadores na área, sem foco na eficiência de produção.
O achado está em artigo publicado pelos pesquisadores da FGV EAESP Ely Laureano Paiva e Rafael Alcadipani, em colaboração com demais autores, na revista “Supply Chain Management”. Para investigar como o campo dos Estudos Críticos da Gestão pode agregar na solução de problemas da Gestão da Cadeia de Suprimentos, os autores realizaram uma revisão de literatura sistemática. Eles analisaram 103 artigos publicados em 12 periódicos de prestígio da área de SCM num intervalo de 10 anos, entre 2012 e 2021.
Pensando a gestão da cadeia de suprimentos a partir de perspectiva crítica
O crescimento rápido e intenso de cadeias de produção globais (ou supply chains) levou à ampliação de práticas de impacto socioambiental negativo, como a exploração da força de trabalho, a precarização das condições de trabalho e a intensificação de desigualdades de gênero, poder e raça. Nesse cenário, os pesquisadores argumentam que a gestão da cadeia de suprimentos não deve ser abordada apenas do ponto de vista técnico e operacional, mas também sob uma perspectiva crítica, considerando as implicações sociais, éticas e ambientais de suas práticas.
De acordo com os autores, os três elementos chave dos Estudos Críticos da Gestão ajudam a revelar problemas normalmente omitidos na área de SCM e abrem caminho para perspectivas e práticas mais inclusivas, permitindo reflexões sobre o impacto das assimetrias de poder, a importância do desenvolvimento sustentável e da diversidade na cultura institucional e preocupações com condições de trabalho mais responsáveis, por exemplo. Os estudos de SCM tratam desses aspectos de forma superficial e com foco no aumento da produtividade, ressaltam os autores. Portanto, é importante explorar melhor essas contribuições.
Como soluções práticas, o estudo sugere a importância de gestores considerarem em suas decisões não apenas eficiência e lucratividade, mas também o impacto social e ambiental das operações, com crítica e reflexão contínuas e condizentes com a demanda global por sustentabilidade. Isso inclui a busca efetiva por diversidade nos profissionais da equipe e a melhoria das condições de trabalho e a redução de riscos ambientais.